Recentemente li uma história que exemplifica o compromisso.
Em 1999, o New York Times começou a atribuir bolsas universitárias através de um programa aberto a estudante de Nova Iorque do último ano do liceu. O objectivo declarado era “apoiar as aspirações de estudantes que desejam evoluir com base nos seus feitos universitários e fazer contributos significativos para a sociedade”. Os administradores do programa queriam, em particular, ajudar os estudantes que tinham sido bem sucedidos, apesar das dificuldades.
As Brochuras diziam: “Os candidatos têm de ter demonstrado, feitos académicos, serviço comunitário e um compromisso com a aprendizagem, especialmente face aos obstáculos financeiros e outros.
Quando os nomes e histórias dos premiados foram anunciados havia muitas histórias de sucesso. Mas uma destacava-se: a história de Liz Murray. Afirmar que tinha demonstrado compromisso face aos obstáculos era pouco.
Liz cresceu no Bronx, um bairro notoriamente problemático da cidade de Nova Iorque, como filha de dois pais que eram alcoólicos e consumidores de drogas intravenosas. Diz que os pais sempre a amaram, mas negligenciaram-na por causa das drogas. Um dia acordou para descobrir que tinham vendido o casaco de Inverno da irmã para comprar uma dose. Por isso, para arranjar comida para ela e para a irmã começou a trabalhar aos nove anos de idade. Oferecia-se para colocar gasolina nas estações de serviço Self-Service e embalava as mercadorias nas lojas para ganhar gorjetas.
Só quando Liz estava na escola é que percebeu que a maior parte das crianças não tinha pais que injectavam cocaína na sala de estar. Foi na altura em que o vírus da Sida, que tinha sido diagnosticado à mãe uns anos antes, se tornou mais agudo. Liz já não ia à escola nessa altura. A maior parte do tempo tentava tomar conta da mãe, que também era esquizofrénica. Passava muito tempo na rua e com os amigos. Quando Liz tinha 15 anos, a mãe morreu. E Liz ficou sem casa.
O PRIMEIRO GRANDE COMPROMISSO
Ironicamente, essa experiência teve um impacto muito positivo na sua vida. Quando viu a mãe enterrada numa campa para pobres, Liz compreendeu a sua realidade e isso levou-a a tomar uma decisão. Diz que “associei os estilos de vida que tinha visto todos os dias com a forma como a minha mãe acabou. Se houvesse algo que pudesse fazer, aquilo não me iria acontecer. Por isso quis voltar à escola. Mas não tinha casa”. As circunstâncias eram difíceis, mas comprometeu-se na tarefa.
Primeiro arranjou um emprego de Verão (o seu patrão e colegas de trabalho nunca souberam que era uma sem-abrigo). O seu pagamento era baseado inteiramente em comissões – e ela excedeu-se. Isso ajudou-a a juntar dinheiro suficiente para sobreviver. Depois, conseguiu ser aceite na Humanities Preparatory School, um liceu público em Manhattan. Para compensar o tempo perdido, fez quatro anos de curso em dois, tendo dez disciplinas de cada vez. De dia, ia para a escola; à noite, estudava em vãos de escada e nos vagões do metro até à madrugada.
Estabeleceu objectivos elevados. Tinha visitado Harvard numa excursão da escola. Decidiu candidatar-se e concorrer à bolsa de estudos do New York Times. Desde a morte da mãe, tinha ganho tenacidade e focalização: “A morta dela mostrou-me como a vida é curta” diz Liz. “Algo que recordo dezenas de vezes por dia. Pensando nisto, é fácil estabelecer prioridades numa situação difícil. São sempre as pessoas de quem gosto que me importam. Trabalhar para trazer à superfície todo o potencial que existe dentro de mim é uma forma de amar pessoas que me são próxima”.
A sua determinação foi testada diariamente na escola e fora dela. As entrevistas para Harvard e para a bolsa aconteceram no mesmo dia. Naquele dia também tinha um compromisso no escritório da Segurança Social, para manter os escassos subsídios. Enquanto aguardava na fila, viu a oportunidade de ir às entrevistas a fugir. Frustrada, perguntou se podia passar para a frente da fila porque tinha uma entrevista em Harvard. Disseram-lhe: “Claro, e a senhora à sua frente tem uma entrevista em Yale. Sente-se.” Afastou-se dos benefícios e escolheu ir às entrevistas.
COMPROMISSO COM HARVARD
No final, conseguiu ir às entrevistas – e conseguiu boas notas. Recebeu uma bolsa anual no valor de 12 mil dólares e foi aceite em Harvard. Randy Kennedy, do New York Times, referiu que “ão é fácil obter uma média de 95 na Humanities Preparatory School e acabar o curso em primeiro entre os 158. É quase único dar um salto destes em dois anos”.
Murray já se transferiu para Columbia. Diz que é melhor para ela e que pode estar mais perto do pai. A sua história apareceu em programas noticiosos, a Lifetime transformou-a num filme e está actualmente a escrever um livro sobre a sua vida. É Fonte de inspiração para quem a conhece. O pai, doente de Sida, vive actualmente livre das drogas, diz que ela é uma heroína, Murray enfrenta tudo como o seu caminho. Apenas vê as coisas como parte de uma viagem e anseia um dia vir a ser realizadora de documentários.
Quando questionada sobre a sua filosofia de vida, Murray resumiu-a desta forma: “ Há sempre uma forma de fazer as coisas se trabalharmos o suficiente e olharmos mais perto. Tudo depende do nível de determinação.” Muito trabalho de determinação. Soa como uma boa descrição de compromisso.
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